Casa de Boneca

Elenco: Ana Paula Arósio, Floriano Peixoto, Marcos Winter, Michel Bercovitch e Silvia Buarque
Direção: Aderbal Freire Filho
Direção de Produção e Administração: Claudio Rangel
Produção Executiva: Geraldo Malheiros
Coordenação de Produção: Níssia Garcia
Realização: Arósio, Garcia & Rangel Produtores e Associados


Autor: Henrik Ibsen
Tradução e Adaptação: Karl Erik / Aderbal Freire Filho
Cenário: José Manuel Castanheira
Figurino: Rosa Magalhães
Iluminação: Maneco Quinderé
Maquete da Casa de Boneca: Antonio José de Oliveira
Música Original e Direção Musical: Tato Taborda
Intérpretes: Quarteto Paulo Bosísio
Preparação Corporal: Rossella Terranova
Projeto Gráfico: ADAG Publicidade
Assessoria de Impresa: Paulo Marra
Fotos para Divulgação: Silvio Pozatto
Cenógrafo Assistente: Marcelo Lippiani

Escândalo! Nora (pronuncia-se Nôha, com h aspirado) – norueguesa, 26 anos, casada, três filhos, do lar – arma um escândalo no teatro ocidental. O “caso” Nora é um tema maldito, precisa ser esquecido, a sociedade está proibida de falar dele.

Como Nora, outras mulheres infernizaram o século XIX. Lembram delas? Ana e Amma, por exemplo, que levavam o sobrenome dos respectivos maridos, Alexei Alexandrovitch Karenine e Charles Bovary. A humanidade de cada uma delas não podia ser contidas pelas regras sociais do tempo em que viveram e, entre ser o que elas queriam ser e o que queriam que elas fossem, preferiam a paixão e a liberdade.

Escândalo!

E agora, que o escândalo virou moda, que escândalo não existe mais ou que, enfim, viver é um escândalo?

Agora, Nora (pronuncie apenas Nora, à brasileira) pode ser vista melhor. Henrik Ibsen, que escreveu Casa de Boneca sob o sol da Itália, não precisaria mais ir a uma reunião de sufragistas (uma reunião de sufragistas agora, onde?) para dizer não, meu povo, eu “não fiz nada pela emancipação da mulher; para dizer a verdade, nem sequer compreendo muito bem o que se entende por isso; tenho batalhado muito em prol da libertação da Humanidade em geral, e pode ser que tenha entrado aí a questão feminista”. Enfim, meu povo, “fui mais poeta e menos filósofo social do que se pensa”.

Agora, podemos enxergar muito melhor e verdadeira Nora. Dá para ver bem que é ela quem está horrorizada com a sociedade. Essa jovem e protagonista de um mundo novo que está se formando, de uma sociedade que está fincando seus pilares. E dá para ver tudo muito bem porque nós já encontramos esses pilares plantados e firmes. Firmes? Os jovens personagens dessa peça – agora, também da para ver melhor que eles são jovens – atiram-se de peito aberto nessa sociedade. Torvald, executivo de um grande banco, o acktiebanken (deixamos assim, como não faziam as outras traduções, para ficar visível a sua marca, mais essa grife do dinheiro), e sua ética inatacável: no fundo, o culto das aparências. Krogstad, tão perplexo quanto Nora , um homem desesperado por ter se confundido com as regras do jogo. Cristine, a jovem amiga, amarga, que volta um dia para reconquistar o que perdeu. O Dr. Rank condenado por uma herança maldita, tenta manter com delicadeza seu diálogo com o amor e a morte. E, no centro de tudo, Nora. O teatro, berço de mitos: todo mundo que quer ver o mundo com seus próprios olhos e seguir o seu próprio caminho é Nora (como se pronuncia: nova, novo?).

Esses jovens atormentados renascem aqui, no Rio de Janeiro, capital da América portuguesa, com o corpo e a alma,o sangue e a poesia desses jovens brasileiros, atrizes e atores, protagonistas eles também. Raras vezes nos mais de 120 anos em que este drama é encenado, os atores tem a mesma idade das personagens. Pois eu saúdo aqui essa juventude – a sabedoria profunda que eles têm da peça também nasce de alguma misteriosa forma de identidade de “geração”. E graças a essa sabedoria e a poderosa capacidade de expressão dessas atrizes e atores podemos nos entregar mais a poesia de Ibsen, que nos repete “fui mais poeta do que…”

Aderbal Freire-Filho (Diretor)
Teatro Hilton – São Paulo – SP – Brasil
15/set/2002 (domingo)
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Fotos: Edyr Sabino – LambeLambe.com